Há tipos que são piores que as melgas! E cada vez mais chego à conclusão que prefiro conviver com dois ou três desses bichinhos no meu quarto do que com esse espécimen de duas pernas. É que as do quarto, sempre podem levar no lombo com o chinelo que estiver mais à mão, e se não se calam a bem, calam-se a mal. Com os melgas é diferente, a estratégia tem que ser outra. Se não for nosso conhecido, óptimo, e um simples Oh, amigo! Vá ali à frente ver se lá estou e venha cá dizer-me resolve o assunto! Quando é nosso amigo, a situação complica-se e quanto maior for o grau de intimidade, mais difícil se torna a tarefa de o despachar. Mas lá por ser amigo, não significa que não possa ir dar uma curva quando começa a ficar cola.
Foi uma amostra deste último exemplar que me apareceu na rua perto da minha casa há uns tempos atrás. Senti um arrepio quando o ouvi chamar pelo meu nome, pois vi num relance os meus planos para o final da tarde irem todos por água abaixo. Olhei para o relógio. É que para além de melga, também me parece que o tipo não joga com o baralho todo.
E começou a conversa. Aquele tipo de conversa em que uma pessoa só tem espaço para um Sim… Claro… Pois… É lógico… Como te entendo… enquanto o outro vai debitando palavras sem se dar ao trabalho de respirar.
1ª tentativa ao minuto 30:
- Não posso demorar muito porque o meu filho está sozinho em casa…
- Já vais, já vais!
2ª tentativa ao minuto 55:
O telemóvel toca. É o meu filho. Penso logo: é desta que me safo!
- Desculpa lá mas era o meu filho a perguntar se demorava muito…
Continua a conversa como se eu não tivesse dito nada.
3º tentativa ao minuto 75:
- Tenho mesmo que ir embora porque o meu filho vai jantar a casa da mãe e ela está à espera.
Pensei cá para mim: agora vou conseguir!
- Vou contigo, vamos no meu carro e vamos conversando.
Para os meus botões:
- Vamos conversando!!? Eu praticamente ainda não abri a boca!
4º tentativa ao minuto 85:
Já no carro dele e vendo a coisa mal parada, num brilho de génio, lembrei-me de enviar uma mensagem ao meu irmão:
Liga-me dentro de 10 minutos e pergunta-me se demoro muito para o jantar.
Toca o telefone.
- Tou! Olha dentro de 20 minutos estou aí. O papá e a mamã já chegaram? Sim… então aguardem um pouco que não demoro nada!
O meu colega:
- Tens um jantar? Estava para te convidar para irmos comer alguma coisa por aí, mas sendo assim… Combina-se para um outro dia. Depois eu ligo-te.
Tá bem melga! Vou mesmo ver se não me esqueço de atender!