# Esta história já tem uns anitos - e até já serviu

de comentário num blog amigo – mas serve para mostrar como é que uma verdade, mais dia, menos dia, pode acabar por se revelar quando menos se espera.

O meu primeiro carro foi uma amável prenda dos meus queridos pais. Pequeno, vermelhinho, foi desde cedo baptizado com o carinhoso nome de Charuto. O meu Charuto acompanhou-me durante 7 anos. Viu muita coisa, sofreu muito na pele e o melhor de tudo, nunca me deixou ficar mal. Digo que sofreu muito na pele porque ao longo destes 7 anos, a única parte do carro que não sofreu nenhum acidente e nunca foi pintada, foi o tejadilho. Eu até costumo dizer que nunca o foi porque nunca tive oportunidade de o capotar. Mas devo esclarecer que nunca fui o culpado de nenhum dos acidentes que ele sofreu. Ao fim destes anos de bons e leais serviços e 140000 kms no pêlo, decidi que já tinha chegado altura de o trocar. Dirigi-me para esse efeito a um stand perto da minha casa, falei com o dono - que era meu conhecido - e perguntei-lhe quanto é que me dava pela retoma. Ele deu uma volta ao carro, reparou com cuidado em alguns pormenores e de repente disse:

- Tens a pintura toda cor-de-rosa do lado do condutor, sabias!
(O carro tinha sido abalroado de noite, num estacionamento, desde a mala até aos faróis)
- Eu sei!
- Digo-te uma coisa, quem te pintou o carro foi um grande aldrabão! Pintou-te o carro com a tinta mais rasca que existe no mercado!
- Ai, é? Então deixe-me dizer-lhe uma coisa, foi você que me consertou e pintou o carro há uns anos atrás!
- Não! Não! Não pode ser!
- Ainda tenho a factura em casa, quer que lha mostre?
- …

O que é certo é que, para me calar ou não, ofereceu-me naquela altura 200 contos acima do valor comercial do carro e sei que este esteve durante dois anos – pintadinho de novo - à venda no stand pelo mesmo valor que ele me tinha oferecido. Mais. Por curiosidade, pedi a uma colega para lá ir e mostrar-se interessada na compra. Foi-lhe dito que o carro tinha pertencido a uma professora que só o utilizava no percurso para a escola, que só tinha 40000 kms (realmente o contador só indicava esse valor porque ao chegar aos 99999, tinha voltado a zero) e que nunca tinha sofrido nenhum acidente...!!